segunda-feira, 25 de junho de 2012

Objeto Museológico do mês - junho

Título: José Relvas tocando violino
Autor /data José Malhoa, 1898.
Técnica: Pastel sobre papel.
Inscrição: Frente - José Malhoa[Assinatura]/1898


José Malhoa era um mestre no domínio da paleta de óleo, só muito ocasionalmente fez trabalhos a pastel, visto há data esta arte ser considerada de menor importância e utilizada com mais frequência em ensaios e estudos. Foi este o caso do retrato de José Relvas realizado em 1898, durante uma visita de Malhoa à Quinta dos Patudos.
A amizade entre Relvas e Malhoa era consolidada pelo apreço mútuo e por um grande número de afinidades de ordem ideológica e estética.
Era com grande frequência que Malhoa visitava a Quinta dos Patudos e aqui produzia algumas obras para a coleção de José Relvas.
No quadro José Relvas tocando violino Malhoa apresenta o realismo que caracteriza a sua arte, retrata o Senhor dos Patudos numa entrega a uma das suas atividades preferidas: a música. José Relvas está concentrado tocando o seu violino, executando talvez uma peça conhecida de memória da obra de Beethoven, visto ser este o seu compositor preferido.
Junto ao músico encontra-se uma mesa com algumas partituras ao fundo vê-se uma das suas obras de arte preferidas, uma escultura de Soares dos Reis, o estudo em gesso para O Artista na Infância, adquirida à família do escultor em 1889.
A cena retratada decorre num interior de limites imprecisos onde está patente uma luminosidade difusa.
Quando foi retratado José Relvas contava 40 anos de idade, a sua personalidade é representada pelo aprumo do porte, era um homem respeitado e estimado por todos. O rosto bondoso revela no entanto uma certa tristeza e melancolia. José Relvas aqui retratado num espaço privado da sua casa, a sala da música, é sem dúvida um homem marcado pelo desgosto e pela tragédia. Anos antes assistira à morte de dois dos três filhos (Maria Luísa e João).
A música tocada por Relvas está “presente” e ausente em toda a obra e é a melodia que escapa das cordas do violino que é a verdadeira alma da obra, a chave para a sua leitura. Na obra apresentada podemos ver o tratamento de Malhoa para o retrato, consegue-nos fazer sentir a obra.
O trabalho aflora com manchas de cor de grande suavidade numa graduação decrescente de tonalidades que parte da figura de José Relvas e se esbate na cinza da parede. O tratamento é adequado à técnica do pastel e confere à obra uma reprodução da imaginação ao apreciá-la, o espectador está a espreitar através de uma janela para a Casa dos Patudos.
Esta é uma obra serena, em perfeita sintonia com a tradição do retrato tardo - romântico de que José Malhoa foi herdeiro e continuador, através deste pastel há a homenagem de um artista a outro artista.
Através da obra constituiu-se uma verdadeira faculdade de sentir as vivências do Senhor dos Patudos.

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